Por Leo Godinho – Opinião

Vivemos uma era em que a insanidade deixou de ser tratada como caso de atenção médica ou familiar e passou a ser promovida como estilo de vida. Condutas que até bem pouco tempo eram associadas a distúrbios psicológicos ou, no mínimo, a traumas não resolvidos da infância, hoje são embaladas com laços de “expressão pessoal” e viralizadas nas redes sociais como se fossem algo admirável, digno de imitação.

É cada vez mais comum ver adultos agindo como crianças — e não se trata de uma metáfora. Homens e mulheres com responsabilidades e idade avançada vestem fantasias, falam com voz de bebê, se dizem “não-binários de espécie”, latem, miam, se declaram objetos inanimados ou entidades imaginárias. Antes, isso se resolvia com uma boa conversa em família ou uma visita ao psiquiatra. Hoje, ganha seguidores, curtidas e até financiamento coletivo.

A infantilização coletiva

A geração que cresceu sem ouvir um “não” agora acredita que qualquer desejo deve ser afirmado e celebrado — não importando quão absurdo, ilógico ou autodestrutivo seja. Isso não é evolução: é regressão emocional mascarada de progresso social. Trata-se de uma geração fragilizada emocionalmente, incapaz de lidar com frustrações básicas e que enxerga em qualquer discordância uma ofensa pessoal.

Redes sociais: o novo hospício global

O que antes se limitava à esquina, ao boteco ou ao banco da praça — aquelas figuras caricatas do bairro que todos conheciam e respeitavam à distância — agora é exportado para o mundo inteiro em tempo real. As redes sociais deixaram de ser vitrines para se tornarem palcos abertos para o desequilíbrio. E o pior: com plateia engajada e aplausos programados.

Esse ambiente digital potencializa distorções mentais, porque oferece validação imediata e sem filtro. O algoritmo não tem critério moral ou ético; ele só recompensa o que chama atenção. Assim, quanto mais bizarro o comportamento, maior a chance de viralizar. O que era um delírio isolado agora se torna tendência global. E quem deveria estar sendo ajudado passa a ser seguido como referência.

Falta discernimento — e isso tem um preço

A ausência de freios emocionais e cognitivos está gerando uma legião de pessoas que não conseguem discernir mais o certo do errado, o real do fictício, o adulto da criança. Há um colapso de referências. Quando tudo é permitido e celebrado, inclusive o que fere a lógica, a ciência e a dignidade humana, abre-se o caminho para a barbárie disfarçada de liberdade.

A sociedade está se infantilizando, e a lucidez está sendo tratada como opressão. Quem aponta o óbvio vira “intolerante”, “antiquado” ou até “perigoso”. E assim, a insanidade se institucionaliza, enquanto a sensatez é cancelada.

O que nos resta?

A responsabilidade de quem ainda pensa, sente e crê com equilíbrio é resistir. Não se trata de ódio, mas de lucidez. É preciso ter coragem para dizer: isso não é normal, isso não é saudável, isso não deve ser incentivado. A caridade, muitas vezes, começa com a verdade. E talvez seja a hora de tratarmos mais a raiz do problema do que a maquiagem da aparência.

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